segunda-feira, 6 de outubro de 2008


Exemplo de superação e cidadania na 4ª Zona Eleitoral
Rodrigo SenaELEIÇÕES - Alan Rubim vota desde os 16 anos, apesar das dificuldades físicas06/10/2008 - Tribuna do Norte Ellen Rodrigues - Repórter Os raros e pontuais problemas constatados em meio à tranqüilidade das eleições na 4ª Zona Eleitoral de Natal, não conseguiram ofuscar os exemplos de superação de vários eleitores, que mesmo com dificuldades de chegar à seção, fizeram questão de exercer a cidadania. Há 17 anos, João Soares foi vítima de um acidente de trabalho que o impossibilitou de continuar a trabalhar e dependente de muletas. Mas devagar, e com um passo de cada vez, ele chegou à Escola Estadual Antônio Pinto de Medeiros no final da manhã de ontem para votar. “O voto branco ou nulo é um desperdício, é preciso escolher um candidato. Todos têm proposta, algumas melhores outras piores, mas é o voto que alimenta a democracia. Se não pudéssemos votar, teríamos uma ditadura”, declarou o eleitor da Escola Estadual Antônio Pinto de Medeiros no conjunto Cidade Satélite. Dona Terezinha Moreira, 66, foi votar em um anda-já, ainda se recuperando de uma queda. Nos 15 locais de votação, que compreendem bairros como Pitimbú, Candelária, Felipe Camarão e Cidade Nova, a movimentação que causou mais transtornos foram as filas em algumas seções com grande número de eleitores, com espera que ultrapassavam o tempo de duas horas. A grande disparidade no número de eleitores aptos a votar nas seções de número 275 (135 eleitores) e 236, (450 eleitores), no Caic de Pitimbú, foi um dos casos constatados.Na primeira, não havia fila de espera e, na segunda, mais de 40 pessoas aguardavam a vez. “É um absurdo, deviam dividir os eleitores nas duas seções”, disse a projetista Libna Cavalcante. Ainda na seção 236, uma pequena fila preferencial de mães com criança de colo e idosos se formou, e a votação foi revezada. A doméstica Cleidiana Aguiar desistiu dos planos de ir à missa para aguardar a vez, “já perdi a hora de ir, é sempre lotado aqui”. Nas ruas, o tráfego de veículos ficou mais intenso em frente aos locais de votação, mas sem causar maiores transtornos, e na região oeste os ânimos eram mais visíveis, e a bebida alcoólica proibida para comercialização, esteve presente nas comemorações antecipadas. Mas foi antes mesmo de começar as votações, por volta das 6h30 da manhã, que encontramos no local com maior número de seções, a Escola Estadual Monsenhor Walfredo Gurgel, em Candelária, o aposentado Jarbas de Oliveira, 74. Pela idade, ele não tinha obrigação de votar, mas explicou que nunca deixou de votar. “Costumo chegar antes das seis. Lembro de quando os títulos eram enormes, e quando votei em Henrique Alves, que aos 19 anos foi candidato a deputado federal em 1970”. Ele foi o primeiro a votar em sua seção, logo após a correria para chegar à seção na abertura dos portões às 8 horas em ponto.Em várias seções a falta de mesários convocados levou os locais a funcionar com menos dos quatro voluntários estabelecidos pelo TRE. Dos 28 mesários das sete seções da E. E. Prof. Luiz Antônio, Candelária, dez não compareceram, segundo Ana Tarcísia, supervisora do TRE. “Teve seção que não veio nenhum dos quatro convocados”, explicou. Ao contrário, o número de fiscais de partidos encontrados em alguns locais com maior número de eleitores chegavam a mais de dez por partido. A votação com presença de crianças e eleitores portando celular também variou bastante de local para local.Nas eleições de 2006, 90.431 estavam aptos a votar e esse ano 93.742 eleitores.Eleitor com paralisia cerebral vota com ajuda da mãeO eleitor Alan Rubim, 29 anos e vítima de paralisia cerebral, fez exatamente o contrário de alguns eleitores insatisfeitos com a obrigatoriedade do voto, que justificam a ausência às urnas, às vezes por motivos banais. Superando todas as dificuldades de locomoção, fala e coordenação motora que naturalmente justificariam sua falta, o jovem que vota desde os 16 anos chegou na tarde de ontem à sua seção na Escola Estadual Professor Luiz Antônio, em Candelária. Com a ajuda da mãe e da tia, ele chegou de táxi em uma cadeira de rodas, e para assinar o nome na ata que comprova o voto, ele contou com o apoio de uma tábua de madeira adaptada. Após alguns minutos dedicados à assinatura, ele foi levado pela mãe até o local de votação. Lá, demorou apenas alguns segundos para concretizar seu direito e dever como cidadão. Mas derrubar obstáculos para alcançar objetivos quase “impossíveis”, é uma constante na vida de Alan. Recém-formado em Marketing em uma faculdade particular de Natal, o aprendizado era sempre arquivado na memória. “Ele não gravava nem podia escrever, então apenas assistia às aulas, e fazia as provas ditando as respostas”, disseram os familiares. “Por essa limitação foi impedido de tentar ingresso na UFRN e concursos públicos que teve interesse, porque esse método de prova não é aceito”. Alan quer ir mais longe, com a monografia sobre sua vida tendo sido conceituada como o melhor trabalho de conclusão de curso da instituição, Alan quer ir ainda mais longe. “Ele pensa em estudar Direito”, disse a mãe.

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